Através de diálogos
pela internet uma vez fiquei sabendo de uma história, conforme contada por um
amigo cético. Ele dizia que um amigo a quem admirava a inteligência sofreu um
acidente de carro e ficou alguns dias desacordado. Ao recobrar a consciência, consta
que ele perguntou “se ainda estava vivo, ou se já estava do outro lado”. Seu
amigo era espírita e acreditava em vida após a morte (na realidade, em vida
após a vida), e ele se perguntou: “mas como uma pessoa tão inteligente pode
crer numa coisa dessas?” – Esta é uma excelente pergunta…
Muitos céticos e
aqueles classificados como “eruditos ou intelectuais” parecem não conseguir
resolver tal enigma. É que eles esbarram em duas interpretações algo
preconceituosas: a primeira é a de que a fé não pode ser racional, e a segunda
é a de que a grande maioria dos espiritualistas e religiosos é alienada da
realidade. Este artigo tentará abrir os olhos dessas pessoas, para que possam
analisar aos espiritualistas pelo que eles realmente são: pessoas como qualquer
outra, mas que consideram a possibilidade da existência do espírito.
Fé e Razão
A etimologia da
palavra “fé” nos traz duas origens não necessariamente complementares. A
primeira deriva do grego pistia e quer dizer “acreditar”. Este é o significado
mais usual, entretanto ainda incompleto, pois não basta crer, é necessário
também compreender a razão pela qual se crê. Esta é a chamada fé raciocinada.
Antes de ser uma contradição, como podem pensar alguns, o uso da razão
solidifica a fé, pois ao analisarmos o objeto de nossa fé, compreendo-o e
aceitando-o, estamos criando alicerces que tornarão nossa fé inquebrantável,
fortalecendo-nos frente aos desafios mais árduos. Por outro lado, a fé sem a
razão é frágil, está sujeita a ser desfeita e pode, frente ao menor abalo,
desmoronar. Ou ainda pior, esta fé irracional pode nos conduzir ao fanatismo, a
negação de tudo que seja contra o nosso ponto de vista. Por não ser oposta a
razão, a pistia é por si mesma não dogmática e, portanto, perfeitamente compatível
com o ceticismo.
Mas temos uma outra
origem da palavra “fé”, derivada do latim fides, que também possui o sentido de
acreditar, mas agrega a este o conceito de fidelidade, ou seja, é necessário
que sejamos fieis ao objeto de nossa fé. Falando em fé religiosa, estamos
falando em Deus, portanto é preciso que sejamos fieis a Deus e isto só é
possível seguindo os seus preceitos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao
nosso próximo como a nós mesmos”.
No entanto, é preciso
tomar muito cuidado na definição deste Deus, pois muitas vezes as pessoas de fé
seguem o deus definido pelo discurso eclesiástico, quando o caminho da
espiritualidade nos leva a busca de nossa própria definição de Deus. E isso nos
leva ao contraponto do segundo tipo de interpretação preconceituosa…
O Deus de cada um
Cada doutrina
religiosa traz sua própria concepção de Deus, e na maioria das vezes elas são
conflitantes. Isto, por si só (e não sem razão), já soa absurdo para aqueles
que cultivam um pensamento mais cético e racional. Não é a toa que muitos
acabam taxando a maioria dos teístas de alienados: se não chegam a um acordo
sequer sobre a natureza de Deus, como podem querer ditar regras de conduta a
serem seguidas?
Essa pergunta é
pertinente porque toca no cerne da religiosidade. O verdadeiro religioso não é
aquele que se inscreveu em uma comunidade dos escolhidos de Deus (a origem de
“igreja”, do grego ekklesia), mas aquele que pratica uma comunhão com Deus ou
com o Cosmos, um caminho de retorno a compreensão de sua própria origem (do
latim re-ligare, origem de “religião”). Desnecessário seria dizer que são
definições bastante distintas, e que embora todo seguidor de igrejas possa ser
religioso, nem todo religioso é seguidor de igrejas. Mas, ainda mais profundo
do que isso: a todo verdadeiro espiritualista parece mesmo óbvio que a forma de
comunhão com Deus (ou o Cosmos) é própria de cada um, pessoal e intransferível.
Não serão livros nem padres nem gurus espirituais quem poderão lhe ensinar –
todos esses ajudam, mas cada um aprende por si próprio, e na prática.
Uma comparação
pertinente pode ser feita entre aprender espiritualidade e aprender a nadar: de
nada adianta ler extensos manuais sobre natação, ou infindáveis palestras de
grandes nadadores – você só irá se tornar um grande nadador se tomar coragem de
mergulhar e enfrentar as ondas por si próprio.
O verdadeiro
espiritualista não é, portanto, um alienado da realidade. Ele apenas mergulhou
na própria consciência, enquanto outros (não sem razão) preferiram abster-se da
aventura.
O Deus de cada um
Cada doutrina
religiosa traz sua própria concepção de Deus, e na maioria das vezes elas são
conflitantes. Isto, por si só (e não sem razão), já soa absurdo para aqueles
que cultivam um pensamento mais cético e racional. Não é a toa que muitos
acabam taxando a maioria dos teístas de alienados: se não chegam a um acordo
sequer sobre a natureza de Deus, como podem querer ditar regras de conduta a
serem seguidas?
Essa pergunta é
pertinente porque toca no cerne da religiosidade. O verdadeiro religioso não é
aquele que se inscreveu em uma comunidade dos escolhidos de Deus (a origem de
“igreja”, do grego ekklesia), mas aquele que pratica uma comunhão com Deus ou
com o Cosmos, um caminho de retorno a compreensão de sua própria origem (do
latim re-ligare, origem de “religião”). Desnecessário seria dizer que são
definições bastante distintas, e que embora todo seguidor de igrejas possa ser
religioso, nem todo religioso é seguidor de igrejas. Mas, ainda mais profundo
do que isso: a todo verdadeiro espiritualista parece mesmo óbvio que a forma de
comunhão com Deus (ou o Cosmos) é própria de cada um, pessoal e intransferível.
Não serão livros nem padres nem gurus espirituais quem poderão lhe ensinar –
todos esses ajudam, mas cada um aprende por si próprio, e na prática.
Uma comparação
pertinente pode ser feita entre aprender espiritualidade e aprender a nadar: de
nada adianta ler extensos manuais sobre natação, ou infindáveis palestras de
grandes nadadores – você só irá se tornar um grande nadador se tomar coragem de
mergulhar e enfrentar as ondas por si próprio.
O verdadeiro
espiritualista não é, portanto, um alienado da realidade. Ele apenas mergulhou
na própria consciência, enquanto outros (não sem razão) preferiram abster-se da
aventura.
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